Caros vizinhos, peço desculpa pela ausência mas fui passar o fim de semana ao Alentejo e não tinha acesso á net.
Posto isto... o post:
Nunca aqui falei de mim. Este blog é o blog de um vizinho bem disposto, amigo da vizinhança... mas anónimo.
Hoje pela primeira vez apetece-me desabafar, abrir uma pequena fresta na janela da minha alma e compartilhar convosco o turbilhão de sentimentos que me inundou o coração durante o fim de semana.
O meu pai morreu subitamente há pouco mais de um ano. Era mecânico e, desde a sua morte, na oficina tudo estava exactamente como ele tinha deixado. Mesmo quando algumas vezes tive necessidade de usar uma ou outra ferramenta voltei a colocá-la exactamente no sítio em que ele a deixara. Se estava desarrumada eu deixava-a lá onde as suas mãos a tinham deixado. Não me perguntem porquê.
Opostamente a mim, a minha mãe pedia-me constantemente que encaixotasse tudo e que deixasse aquele espaço vazio das suas recordações. Para ela, que vive naquela casa, era muito doloroso encarar diáriamente a ausência de quem ali estivera durante décadas.
Durante todo este tempo inventei mil e uma desculpas para não ceder aos seus pedidos.
Este fim de semana decidi finalmente começar a desfazer a oficina que o meu pai tinha ido construindo ao longo de uma vida.
Depois de desmantelar e encaixotar grande parte das ferramentas, sempre com um nó na garganta, dirigi-me ao cemitério e fui pedir desculpa ao meu pai. Pedi-lhe que me perdoasse esta quase traição.
Os homens também choram. Acreditem que sim.
Até amanhã, vizinhos.
Vou pra dentro tentar descansar.
domingo, 21 de março de 2004
Confissão da alma do vizinho
domingo, março 21, 2004
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